sábado, 23 de julho de 2016

campos de férias - o lado de quem os deixa

a D foi para um campo de férias esta semana. um campo que eu amo, o grupo dos mais pequenos é dos quatro aos sete anos. faltam dois meses para a D fazer quatro anos.

conheço o campo de férias desde que me lembro. fui pela primeira vez quando tinha três anos, faltavam quatro meses para fazer quatro anos. fui lá campista e posteriormente monitora. amo aquele trabalho e aquele local. diz-me muito, apela a muitas memórias.

quando comecei a ser monitora, desejei que aquele fosse também o campo de férias dos meus filhos, logo desde pequenos, não era preciso chegar aos quatro anos.

mas depois de se ser mãe há coisas que mudam, e só me apercebi ao começar este ano - este seria o ano para a D começar, segundo os meus antigos pensamentos, mas achei que não era capaz de a deixar já. pensei ir lá no dia de visitas, para a D ter a sua primeira interação com o local.

vai daí, uma das minhas melhores amigas convidou-a porque ia ser lá diretora, exatamente nesse campo. no minuto que recebi o convite, soube que a ia deixar, mas haviam muitos sentimentos contraditórios, muitos se's. nessa noite, chorei. um aperto enorme estava no meu coração, o sentimento que sempre tive, antes de engravidar, de que tinha de lhe dar asas. dar asas não é apenas dar-lhe cultura e momentos de diversão, é ensinar-lhe, dar-lhe ferramentas, e mostrar-lhe que está bem mesmo quando nós não estamos perto. mas no processo, a minha dor é angustiante, não poder estar lá sempre, não a poder proteger, ter de dá-la ao mundo.

a primeira e principal razão para a deixarmos ir foi acreditarmos que ela era capaz de lá estar uma semana, "capaz" não no sentido de esforço, mas no sentido de ir gostar e aproveitar aquilo que tinham para lhe ensinar, as brincadeiras, cada momento - sabíamos que era crescida o suficiente. decidimos pôr o coração ao largo e fazer a inscrição.

depois foi tentar não sentir muito, e tentar ir dando-lhe informação prática para momentos que ela tivesse alguma necessidade, e teórica de como costumam ser os campos, do que iria lá fazer e do que de certeza iria gostar.. nunca lhe perguntámos se ela queria ir, da mesma forma como nunca lhe perguntei se ela queria ir para a escola. mas motivámo-la altamente para aquela semana.

deixámo-la em lágrimas e graças a Deus que já temos o S para nos distrair.

o primeiro telefonema foi um alívio enorme depois de pouca conversa ouvimos "mamã, estou com fome e estou cansada de estar em pé, falamos depois".

aliviei, tentei esquecer. ao segundo dia senti-me a respirar de novo. recebi um telefonema em que ela não parava de chorar, queria-me. disse que não queria telefonar-me, mas que me queria. é rija a miúda e isso muitas vezes preocupa-me mais - não me contar o que a chateia, não querer que eu a oiça quando está a chorar. depois de mais umas horas de sufoco, ela acalmou e nós também. eu sabia que ela estava cansada, sabia que naquele dia adormeceu na sesta e acordaram-na pouco depois e que esse era o principal motivo para o pranto, mas naquele momento só quis correr até ela e ir buscá-la. não a iria deixar lá se ela estivesse infeliz, mas sinceramente não me parecia que ela estivesse.
no dia seguinte o aperto existia - felizmente a minha amiga deu-me informações para me confortar sempre que precisei. um telefonema calmo mas apertado em que ela perguntou se podia dormir comigo quando voltasse, muitas conversas que ela falava de saudades. cada dia uma eternidade, mas mensagens e conversas curtas foram-me fazendo feliz. soube que ganhei um genro, soube que ela adorou o postal que deixámos para lhe entregarem durante a semana. na quinta feira telefonei para lá, mas seria apenas a minha mãe a falar. quando a chamaram, ela não quis vir, mas quando soube que era a avó, veio a correr! disse que estava a divertir-se, e que naquela altura estavam a fazer-lhe uma trança. na sexta feira era a noite de gala, recebemos um vídeo com ela linda, super feliz, não parava de saltar! telefonámos durante o jantar e ela estava super contente, sem nos dar muita conversa porque tinha fome e estava a haver o jantar.

sábado, dia de a ir buscar. despertador para as 7.30, acordei sozinha às 6.30. vou buscá-la!

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